Essa é uma pergunta que muitas vezes me fazem.
Infelizmente a crueldade em tirar da
mãe filhotes muito pequenos, bebês incapazes de sobreviver sozinhos, é coisa
comum de acontecer.
Por incrível que pareça, alguns humanos acham “uma maldade castrar seus
animais”, mas não vêem maldade em abandonar à própria sorte ou até mesmo
sacrificar, filhotes que não desejam.
Por isso tantas pessoas encontram bebês gatos nas ruas.
Se isso acontecer, antes de tudo, não
entre em pânico.
Se você dispõe de paciência, tempo, amor e determinação, você está apto a
realizar esta trabalhosa tarefa. E acredite, a recompensa pelo trabalho no
final é imensa.
É trabalhoso sim, mas o período mais
difícil, trinta dias iniciais de vida, é bem curto.
Passei por essa experiência antes de
ser Veterinária. Por isso acho que conheço os dois lados do problema.
Hoje existem produtos no mercado, como leite em pó para gatinhos e mamadeiras
próprias, que facilitam bem a tarefa, coisa que na época não havia. Era na base
do improviso.
Em março de 1986, encontrei 3 gatinhos,
irmãos de ninhada, abandonados na rua dentro de um saco de papel. Acredito que
tinham por volta de 15 dias.
Foi muito trabalhoso, mas como
recompensa ganhei o amor incondicional de meus “filhos gatos” – Tara Elvis,
Sheeba e Docinho.
Eles já não estão mais entre nós, fisicamente. Docinho se foi com 11
anos. Tara e Sheeba com 15. O amor, lealdade e companheirismo são
inesquecíveis e continuam comigo eternamente. Por isso digo que vale a pena!
Se você encontrou um bebê gato, a
primeira coisa a fazer é levá-lo a um veterinário assim que for possível. Ele
irá examiná-lo, ver seu estado de saúde, calcular sua idade e orientar você a
respeito dos cuidados, vacinas, etc.
Se notar que o gatinho está muito
desidratado, não responde a estímulos, debilitado por não se
alimentar há muito tempo, você pode dar Pedialyte sem
sabor, que se compra em qualquer farmácia, ou passar glucose de milho (Karo) na
sua gengiva para elevar o nível de açúcar no sangue. Com isso você ganhará um
tempo precioso para conseguir chegar ao veterinário mais próximo.
Se você já tiver outros gatos em casa,
o gatinho deverá ficar de quarentena. Isso evitará que ele passe, caso tenha, alguma doença para os gatos já existentes.
A separação também evitará acidentes,
já que ele é pequeno e indefeso. Os mais velhos podem considerá-lo uma ameaça,
um estranho que invadiu seu território. É necessário um tempo de exposição
lento e gradual, sob supervisão, para que se acostumem uns aos outros. Mas não
nessa fase do pequeno.
Providencie uma caixa de papelão forte.
Se estiver em época de frio, forre com bastante jornal, toalhas velhas mas
macias, cobertores velhos, etc. para deixá-lo aquecido. Isso é muito
importante. O frio pode matar um filhote em pouco tempo. Se no lugar onde você
mora faz muito frio, será necessário algum tipo de aquecimento, como uma bolsa
de água quente colocada debaixo de toalhas. Mas por favor CUIDADO, não é para assar os pequenos, mas sim aquecê-los. Cuidado com a
temperatura. Calor em excesso também pode ser fatal.
A caixa dos gatinhos deve ficar em
local protegido de correntes de ar, calmo e com pouco barulho. Você pode
colocar uma tolha por cima da caixa, deixando, é claro, uma abertura para a
passagem e renovação de ar. A tolha manterá a caixa aquecida e no escuro,
ajudando os pequenos a dormir.
Se você tiver algum bichinho de pelúcia
ou algodão, lavável, pode colocá-lo na caixa. Assim eles terão a sensação de
estarem com a mãe e ficarão mais tranqüilos.
Procure num bom Pet Shop por leite em
pó específico para gatos e mamadeira. Em caso de emergência, até conseguir
comprar o necessário, você pode improvisar com conta-gotas ou mesmo pequenas
mamadeiras para bebês (chucas) tomarem chá ou remédio. Use leite para bebês,
como o Nanon ou mesmo leite de vaca, mas isso por muito pouco tempo, já que
esses tipos de leite causam diarréia.
Se onde você está não existe leite para gatinhos, você pode utilizar uma
receita especial de suscedâneo:
Receita do Suscedâneo:
1 litro de leite Integral
2 gemas
2 colheres de sopa de creme de leite
1 colher sopa de açúcar
1 pitada de sal
Modo de Preparo: Bata as gemas, acrescente o leite e coloque a ferver.
Quando estiver fervendo, coloque os demais ingredientes. Deixe esfriar.
Dar a mamadeira a filhotes tão pequenos
pode ser um grande desafio. Mas tenha calma e paciência. É tudo uma questão de
tempo, prática e adequação para ambas as partes.
O importante é que o filhote se sinta
estimulado a mamar. No início não vai ser fácil, já que ele não irá reconhecer
naquela coisa de borracha as tetas de sua mãe. Mas a fome e o instinto de
sobrevivência sempre falam mais alto. Para que ele não desista de sugar o bico da
mamadeira, o tamanho do furo é muito importante. Se for muito pequeno ele se
cansará logo e desistirá de mamar. Mas também não pode ser tão grande que ele
se engasgue.
Se o gatinho se recusar a mamar, tente
mudar a posição da mamadeira, do bico na boca, mude a posição do gatinho, até
descobrir a forma que dá mais certo. A minha Docinho só mamava de barriga pra
cima, em qualquer outra posição ela se recusava a mamar.
Se depois de tudo, ele continuar a se
recusar, procure a ajuda de um veterinário.
Fique atento à quantidade que o gatinho
mama e se perde peso. Eles devem mamar com intervalos regulares, que vão se
espaçando a medida que crescem. Com 4 semanas, época do desmame, eles mamam
apenas 2 vezes ao dia, já que comem papinha além da mamadeira.
Com 3 semanas você pode iniciar o
processo de desmame. Geralmente não é difícil e os pequenos gostam de
experimentar novos sabores. Acrescente ao leite, um pouco de sopa de bebê,
batida no liquidificador.
Essa sopa é feita com legumes variados,
carne branca de frango, um cereal (arroz, aveia, ou outro), um pouquinho de
sal. Deixar cozinhar bem e depois de frio bater no liquidificador até ficar
homogêneo. Ofereça morna.
Com 4 semanas ofereça a sopinha num
pires, em pouca quantidade. Eles vão se sujar, mas estão aprendendo a comer
sozinhos, e isso é ótimo pra você!
Após a festa, limpe-os com pano úmido
em água morna, seque-os bem para que não sintam frio.
Outro ponto importante é a higiene.
Você certamente não irá gostar, mas terá que substituir a mãe nessa tarefa
também. Quando muito pequenos, os gatinhos só evacuam e urinam quando
estimulados pelas lambidas da mãe, quando esta os lava após as mamadas. Calma,
você não precisa lambê-los! Um algodão embebido em um pouquinho de água
filtrada morna já faz o serviço. Aproveite para
limpá-los de resíduos de leite, fezes e urina, para que o local onde dormem e
passam todo o tempo esteja sempre limpinho. Troque regularmente toalhas,
jornais, etc.
Até abrirem os olhos, por volta de 10
dias, os gatinhos costumam produzir muito pouca fezes. Mas se não fizerem nada
por mais do que dois dias, procure a ajuda do veterinário.
Com 3 semanas de idade, você pode fazer
aos pequenos a primeira apresentação a uma caixa sanitária. Utilize uma caixa
baixa e pequena, coloque um pouco de granulado sanitário e deixe que explorem a
caixa. Se puder coloque um pouquinho das “necessidades”
na caixa, isso irá ajudar na aprendizagem. O instinto de enterrar na areia é
natural e não precisa ser ensinado.
O período de 2 a 7 semanas é muito
importante para a socialização. O contato positivo com humanos diferentes nessa
fase, fará com que o gato cresça amistoso.