"O simbolismo do gato é muito heterogêneo, pois oscila entre as tendências benéficas e maléficas, o que se pode explicar pela atitude a um só tempo terna e dissimulada do animal. No Japão, o gato é um animal de mau augúrio, capaz, segundo dizem, de matar as mulheres e de tomar-lhes a forma. (...) No mundo búdico, censura-se o gato por ter sido um dos dois únicos animais (a serpente foi o outro) que não se comoveram com a morte do Buda; o que poderia, no entanto, de um ponto de vista diferente, ser considerado como sinal de sabedoria superior.
Encontram-se, na Índia, estátuas de gatos ascetas que representam a beatitude do mundo animal (Kramrisch); mas o gato é também, ao contrário, a montaria e a aparência exterior assumida pela iogini Vidali. Na China antiga, o gato era considerado mais como animal benfazejo, e sua postura era imitada nas danças agrárias, assim como a do leopardo (Granet). (...)
O Egito antigo venerava, na figura do gato divino, a deusa Bastet, benfeitora e protetora do homem. Numerosas obras de arte o representam com uma faca numa das patas, decepando a cabeça da serpente Apófis, o Dragão das Trevas, que personifica os inimigos do Sol e que se esforça por fazer soçobrar a barca sagrada, durante sua travessia pelo mundo subterrâneo. Neste caso, o gato simboliza a força e a agilidade do felino, postas a serviço do homem por uma deusa tutelar a fim de ajudá-lo a triunfar sobre seus inimigos ocultos. (...)
Na tradição muçulmana, o gato (qatt) é considerado como um animal basicamente favorável, salvo se for preto. De acordo com a lenda, como os ratos incomodassem os passageiros da Arca, Noé passou a mão na testa do leão que espirrou, lançando fora um casal de gatos; esta é a razão pela qual esse animal se assemelha ao leão. O gato é dotado de baraka. Um gato completamente preto possui qualidades mágicas. Dá-se sua carne a comer para ficar livre da magia; se o baço de um gato preto for pendurado bem junto do corpo de uma mulher menstruada, interrompe-lhe as regras. Utiliza-se o sangue do gato preto para escrever poderosas palavras encantatórias. Ele tem sete vidas. Muitas vezes, os Djin (nome que os árabes dão a seres, benéficos ou maléficos, superiores aos homens e inferiores aos anjos) aparecem sob a forma de gatos. (...)
Em muitas tradições, o gato preto simboliza a obscuridade e a morte."
Fonte: Dicionário de Símbolos, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, José Olympio Editora, 20 edição, 2006.
O gato, assim como inúmeros outros animais, possui um simbolismo muito diversificado, variando entre significados benéficos e maléficos, dependendo da mitologia e da religião em que o animal é descrito. A mitologia trata-se de algo importantíssimo para humanidade, pois graças à ela as pessoas buscam atingir as virtudes e qualidades que os deuses representam. Porém, não podemos nos deixar levar por atitudes que, supostamente, nos trariam benefícios em troca do bem-estar ou mesmo da vida de qualquer animal. Crer que um gato, por exemplo, somente por ser preto, possa nos levar à morte ou nos trazer mau agouro passa um pouco dos limites, uma vez que muitas pessoas fazem-no sofrer ou o sacrificam por prevenção à estas situações maléficas.
"A Igreja, no início de sua história, adotou alguns símbolos pagãos e rejeitou outros. Assim, Jesus se tornou o "Leão de Judá", e a serpente a égide do mal. Na seita dos coptas, surgida por volta do século I d.C., havia no evangelho gatos que julgavam os homens após a morte. A primitiva Igreja Celta associou vários santos às tradições pagãs e ao culto do gato. (...)
Na Idade Média, entretanto, a imagem do gato começou a mudar. No século V, os gnósticos, que atribuíam igual importância a Jesus, Buda e Zoroastro, foram acusados de adorar o demônio na figura de um gato preto, macho. Em 1344, surge na França o culto de São Vito, em Metz, queimando vivos anualmente 13 gatos em uma gaiola.
Quando a peste negra atacou a Europa, dizimando quase um terço da população, inicialmente os gatos foram considerados culpados e perseguidos, ordenando-se a sua destruição.
A associação da figura do gato ao culto ao demônio levou inevitavelmente à sua vinculação à feitiçaria e às artes mágicas. No século XV, na Alemanha, ressurgem cultos pagãos como o da deusa Freya. Em 1484, o papa Inocêncio VIII difunde a crença de que as feiticeiras veneravam Satanás encarnado em gato. Por toda a Europa, pessoas inocentes foram torturadas em nome de Deus. E, com elas, seus gatos. Em Ypres, na França, centenas de gatos eram atirados do alto de um campanário em um festival anual. Milhares de gatos foram sacrificados em rituais durante a Páscoa. A perseguição chegou até mesmo à América quando, em 1692, várias pessoas foram executadas em Salem, no estado de Massachusetts."
Fonte: Deixe um gato supreender você, Yara Rocca, Instinto editorial, 1 edição, 2007.
Portanto, depois destas colocações, pense bem no que vai fazer caso um gato preto cruze o seu caminho...
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